terça-feira, 3 de junho de 2014

Obediência: culpa ou desculpa?



No início da década de 70, Stanley Milgram desenvolve uma experiência no âmbito da influência social: a submissão à autoridade e assim um teste á obediência.

A experiência consistia num teste sobre a memória e associação. Um homem de bata branca representando um especialista organizava os indivíduos aos pares delegando funções a cada um deles: aluno (que era um ator contratado) e o professor (que era o sujeito ingénuo, a cobaia). A função do aluno era repetir uma sequência de palavras por ordem ou associar palavras a grupos. A função do professor era castigar o aluno caso este errasse, que era a maior parte das vezes. O castigo era feito com choques entre 25 a 450 volts, podendo levar á morte do individuo, embora na experiência a descarga fosse sempre a mesma e inofensiva. Cerca de 62,5% dos sujeitos continuavam a dar choques eléctricos até uma voltagem de 450 volts, apesar dos gritos e súplicas do aluno, obedecendo assim às orientações do experimentador. Esta percentagem não se alterou mesmo quando foi acrescida a informação de que o aluno tinha problemas cardíacos.

Quando, após a experiência, os indivíduos obedientes foram entrevistados, afirmaram que não tiveram escolha, obedeciam a ordens, que a responsabilidade era do experimentador: o sentimento de ser agente de outra pessoa justificava o seu comportamento. Estas respostas assemelhavam-se a muitas dadas por guardas e oficiais nazi responsáveis pelo extermínio de milhões de judeus. Justificações semelhantes foram dadas pelos soldados americanos depois de terem massacrado camponeses vietnamitas de My Lai.

A obediência acontece quando as pessoas não se sentem responsáveis pelas ações que levam a cabo, sob ordens de uma figura de autoridade; consideram que esta se responsabiliza pelas consequências dos seus atos. As pessoas são influenciadas a comportarem-se de determinado modo através da aceitação de ordens que sentem a obrigação de cumprir. Se pensarmos bem, toda a nossa vida social está baseada na obediência a ordens.

A experiencia de Miigram levou os investigadores a averiguarem quais as condições que favorecem o comportamento obediente. Daí identificam-se alguns factores:

- A proximidade com a figura de autoridade: Quanto mais próxima estiver a autoridade, maior é a obediência: as pessoas sentem-se mais intimidadas e obedecem mais. Na experiência referida, se as instruções do investigador eram dadas pelo telefone, a obediência baixava para 20,5%
-A legitimidade da figura da autoridade: Quanto mais reconhecida for a autoridade, maior é a obediência. Se o estatuto de quem dá as ordens for reconhecidamente mais elevado, maior é o nível de obediência.

-A proximidade com a vítima: na experiência, quando não havia qualquer contacto com a vítima, 100% dos participantes atingiam a voltagem mais elevada. Se tivessem contacto visual com a vítima durante a experiencia os valores baixavam para 40% e baixavam para 30% se o participante tocava na vítima ao colocar-lhe os dispositivos.


-A pressão do grupo: se dois elementos do grupo se recusam a participar apenas 10% chegam á voltagem máxima.
Assim, na minha opinião, não devemos deixar que a pressão do grupo bem como outros fatores externos nos influenciem, de modo a perdermos a opinião crítica ou mesmo valores morais.

Fernando Freire nº8

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