terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Assassinos Natos"

O filme “Assassinos Natos”, realizado por Oliver Stone, faz um retrato da violência existente na sociedade contemporânea e actual através da vida de um casal de psicopatas. Faz ainda uma crítica à imprensa sensacionalista, que os glorifica e faz deles uns “quase heróis” da América.

Gravado com uma variedade de estilos, a cores e a preto e branco, com diferentes perspetivas de câmaras, lentes e efeitos especiais, juntando-lhe os desenhos animados, dá a ideia de que é de loucos! E é mesmo!

Mickey e Mallory Knox (interpretados por Woody Harrelson e Juliette Lewis, respetivamente) foram vítimas de infâncias traumáticas, o que levou a que enveredassem por uma carreira de serial killers, apenas como expressão dos seus instintos básicos.

Considerados uma versão mais violenta de Bonnie e Clyde, Mickey e Mallory assassinam 48 pessoas em 3 semanas, deixando apenas um sobrevivente para que este possa contar quem foi o autor de tais brutalidades, o que dá para perceber o quão lunáticos são! De todos os crimes que cometem, apenas se arrependem de um, a morte acidental de um indiano que os acolheu e alimentou quando estavam perdidos no deserto, apesar de este afirmar que Mickey é um demónio branco e que Mallory é louca e vive num mundo de fantasmas.

O filme começa por mostrar algumas imagens de animais selvagens, nomeadamente uma cascavel, um escorpião e uma águia, que vão passando ao longo do filme, juntamente com outros. Estes representam o instinto animal, instinto selvagem, de sobrevivência, que podemos relacionar com o comportamento que Mickey e Mallory manifestam ao longo do filme – deixam de ser animais racionais ao matar sem piedade, e passam a revelar comportamentos animalescos, baseados nos instintos. 


Jean-Jackes Rousseau foi um filósofo iluminista do século XVIII, que escreveu uma obra intitulada “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, onde defendia que “A natureza fez o Homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”. Trata-se da “teoria do bom selvagem”.

Para Rousseau, no início da existência do Homem, este tinha poucas necessidades, vivia de forma natural, sem electricidade e aparelhos tecnológicos, e começava a agregar-se em pequenas comunidades. Foi a época de ouro para a Humanidade. Não havia desigualdades sociais, viviam em paz uns com os outros. Com o estabelecimento da propriedade privada, foi exigido aos mais fracos que obedecessem aos mais fortes, dando início às desigualdades sociais, que se prolongaram até à sociedade actual. O Homem nasceu livre, mas a sua maldade advém com a sociedade.

A história de vida de Mickey e Mallory vem exemplificar a teoria do “bom selvagem”. No caso de Mallory, o seu pai abusava sexualmente dela e era negligenciada pela mãe, teve uma infância infeliz que se reflectiu em quem se tornou em adulta. Mickey teve uma infância parecida, em que ambos os pais eram abusivos. O facto de as crianças terem crescido numa família disfuncional, com ausência de carinhos e afetos, e portanto, não terem de facto tido uma infância dita normal, contribuiu para que se tornassem assassinos em série. 
Caso contrário, se tivessem crescido numa família que os amasse, seriam pessoas normais, que, em situações normais, seriam incapazes de matar alguém.

Tendo como base a teoria do “bom selvagem” de Rousseau, vou formular a minha própria teoria, que em pouco difere da de Rousseau, apenas no facto de que o Homem não nasce bom nem mau, ele apenas nasce, a sociedade altera-o.

Neste caso, se uma pessoa nascer numa família de corruptos, traficantes, o que quer que seja, tem maior probabilidade de se tornar no mesmo que os pais. Mas se nascer numa família cujos valores mais pronunciados são a honestidade, a partilha e a humildade, a probabilidade de se tornar uma pessoa má é mais pequena do que se crescer numa família traumática. É claro que todas as regras têm exceções, podem nascer boas pessoas em más famílias e más pessoas em boas famílias, não houvesse para todas as regras uma exceção, mas a probabilidade de isso acontecer é mínima. Assim sendo, este filme tanto pode estar inserido na teoria de Rousseau como na minha teoria; eu apenas mostrei os dois lados da questão. Cada um tem a sua opinião, pode optar por escolher uma destas ou pode ter uma opinião diferente.

“Assassinos Natos” levanta várias controvérsias, nomeadamente a censura e os crimes ‘copycat’ – o filme foi proibido em muitos países por promover a violência e inclusive os produtores foram processados por um casal ter visto o filme antes de cometer um crime; e após a saída do filme, vários crimes foram cometidos com a intenção de copiar o que o casal protagonista faz.


Não é correto afirmar que o filme influencia as pessoas quando o próprio filme é um retrato da sociedade em que se vive, como diziam os slogans na época: "A bold new film that takes a look at a country seduced by fame, obsessed by crime and consumed by the media" ("Um novo filme ousado que lança um olhar sobre um país seduzido pela fama, obcecado pelo crime e consumido pelos meios de comunicação")


Joana Dias, nº14 12ºA

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