O filme “Assassinos Natos”, realizado por Oliver Stone, faz
um retrato da violência existente na sociedade contemporânea e actual através
da vida de um casal de psicopatas. Faz ainda uma crítica à imprensa
sensacionalista, que os glorifica e faz deles uns “quase heróis” da América.
Gravado com uma variedade de estilos, a cores e a preto e
branco, com diferentes perspetivas de câmaras, lentes e efeitos especiais,
juntando-lhe os desenhos animados, dá a ideia de que é de loucos! E é mesmo!
Mickey e Mallory Knox (interpretados por Woody Harrelson e
Juliette Lewis, respetivamente) foram vítimas de infâncias traumáticas, o que
levou a que enveredassem por uma carreira de serial killers, apenas como expressão dos seus instintos básicos.
Considerados uma versão mais violenta de Bonnie e Clyde,
Mickey e Mallory assassinam 48 pessoas em 3 semanas, deixando apenas um
sobrevivente para que este possa contar quem foi o autor de tais brutalidades,
o que dá para perceber o quão lunáticos são! De todos os crimes que cometem,
apenas se arrependem de um, a morte acidental de um indiano que os acolheu e
alimentou quando estavam perdidos no deserto, apesar de este afirmar que Mickey é um demónio branco e que Mallory é louca e vive num mundo de fantasmas.
O filme começa por mostrar algumas imagens de animais
selvagens, nomeadamente uma cascavel, um escorpião e uma águia, que vão
passando ao longo do filme, juntamente com outros. Estes representam o instinto
animal, instinto selvagem, de sobrevivência, que podemos relacionar com o
comportamento que Mickey e Mallory manifestam ao longo do filme – deixam de ser
animais racionais ao matar sem piedade, e passam a revelar comportamentos
animalescos, baseados nos instintos.
Jean-Jackes Rousseau foi um filósofo iluminista do século
XVIII, que escreveu uma obra intitulada “Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens”, onde defendia que “A natureza fez
o Homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”. Trata-se
da “teoria do bom selvagem”.
Para Rousseau, no início da existência do Homem, este tinha
poucas necessidades, vivia de forma natural, sem electricidade e aparelhos
tecnológicos, e começava a agregar-se em pequenas comunidades. Foi a época de
ouro para a Humanidade. Não havia desigualdades sociais, viviam em paz uns com
os outros. Com o estabelecimento da propriedade privada, foi exigido aos mais
fracos que obedecessem aos mais fortes, dando início às desigualdades sociais,
que se prolongaram até à sociedade actual. O Homem nasceu livre, mas a sua
maldade advém com a sociedade.
A história de vida de Mickey e Mallory vem exemplificar a
teoria do “bom selvagem”. No caso de Mallory, o seu pai abusava sexualmente
dela e era negligenciada pela mãe, teve uma infância infeliz que se reflectiu
em quem se tornou em adulta. Mickey teve uma infância parecida, em que ambos os
pais eram abusivos. O facto de as crianças terem crescido numa família
disfuncional, com ausência de carinhos e afetos, e portanto, não terem de facto
tido uma infância dita normal, contribuiu para que se tornassem assassinos em
série.
Caso contrário, se tivessem crescido numa família que os amasse, seriam
pessoas normais, que, em situações normais, seriam incapazes de matar alguém.
Tendo como base a teoria do “bom selvagem” de Rousseau, vou
formular a minha própria teoria, que em pouco difere da de Rousseau, apenas no
facto de que o Homem não nasce bom nem mau, ele apenas nasce, a sociedade
altera-o.
Neste caso, se uma pessoa nascer numa família de corruptos,
traficantes, o que quer que seja, tem maior probabilidade de se tornar no mesmo
que os pais. Mas se nascer numa família cujos valores mais pronunciados são a
honestidade, a partilha e a humildade, a probabilidade de se tornar uma pessoa
má é mais pequena do que se crescer numa família traumática. É claro que todas
as regras têm exceções, podem nascer boas pessoas em más famílias e más pessoas
em boas famílias, não houvesse para todas as regras uma exceção, mas a
probabilidade de isso acontecer é mínima. Assim sendo, este filme tanto pode
estar inserido na teoria de Rousseau como na minha teoria; eu apenas mostrei os
dois lados da questão. Cada um tem a sua opinião, pode optar por escolher uma
destas ou pode ter uma opinião diferente.
“Assassinos Natos” levanta várias controvérsias, nomeadamente
a censura e os crimes ‘copycat’ – o filme foi proibido em muitos países por
promover a violência e inclusive os produtores foram processados por um casal
ter visto o filme antes de cometer um crime; e após a saída do filme, vários
crimes foram cometidos com a intenção de copiar o que o casal protagonista faz.
Não é correto afirmar que o filme influencia as pessoas
quando o próprio filme é um retrato da sociedade em que se vive, como diziam os
slogans na época: "A bold new film that takes a look at a country seduced
by fame, obsessed by crime and consumed by the media" ("Um
novo filme ousado que lança um olhar sobre um país seduzido pela fama, obcecado
pelo crime e consumido pelos meios de comunicação").
Joana Dias, nº14 12ºA
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