terça-feira, 18 de março de 2014

O que vale a pena, se a alma não for pequena?

O inconformismo é a adopção de atitudes e comportamentos que vão contra as normas de um grupo. A demonstração deste mesmo inconformismo está presente um pouco por todo o mundo. São inúmeras as manifestações que, diariamente, são exibidas pelos meios de comunicação. 


O secretário-geral da CGTP apelou esta quinta-feira ao povo português para que lute contra as políticas de austeridade do Governo e considerou que as marchas que estão agora a decorrer no país são um bom exemplo da indignação dos portugueses.
                                                                                                                                                   27 de Fevereiro 2014, Jornal Sol



Fig. 1) Manifestação em Portimão (15 Setembro 2012) 

Portugal, o país dos três F (Fátima, fado e futebol), tem sido alvo de marchas de inconformismo por parte do povo, como é possível comprovar no excerto da notícia apresentado. Os apelos para que a população faça algo em relação à sua insatisfação têm sido notórios. Nos últimos anos, esta ocidental praia lusitana tem sofrido cortes salariais, aumento de impostos, entre outras medidas de austeridade, tornando-se assim no país dos quatro F. Todas estas amostragens de indignação e de revolta com o intuito de contornar tal facto, são sinais de uma sociedade que quer uma mudança e que não aceita as normas que lhes são impostas pelos seus líderes.

Afinal, quais são as vantagens destes comportamentos revolucionários? Valem a pena, quando a alma não é pequena?

Na minha realidade, observo que o inconformismo com boa índole consegue resultados positivos para a sociedade, mas nem sempre se apresenta como vantajoso para os indivíduos que não se conformam, que lideram as revoluções e que são os pioneiros da tomada de atitudes e comportamentos para a mudança.

Desde pequeno que o ser humano aprende que o inconformismo pode levar a consequências negativas para o próprio. Quando uma criança não aceita uma ordem, é castigada por isso, muitas vezes sem entender a razão da punição. Já estudante, e mesmo no mercado de trabalho, o indivíduo depara-se com regras e hierarquias de poder que necessitam de ser respeitadas. Na escola, a classificação do aluno é atribuída pelo professor. No emprego, o salário, a quantidade de tarefas a serem realizadas pelo funcionário, entre outras coisas, estão dependentes do patrão. Um qualquer desvio às exigências estabelecidas pelos superiores poderá levar a consequências como uma expulsão ou um despedimento.

Fig. 2)  Martin Luther King
Mesmo assim, havendo toda uma aprendizagem baseada no respeito de normas e regras, certos cérebros inquietos afirmam-se inconformistas perante pensamentos e situações incorrectas da sociedade. 
Galileu Galilei defendeu e fundamentou a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, 
desmistificou ideias erradas e causou uma renovação científica, mesmo contra as leis eclesiásticas da altura. Martin Luther King lutou contra o racismo nos Estados Unidos e lutou pelos direitos civis dos negros. Che Guevara desejava igualdade social, foi um dos líderes da Revolução Cubana e lutou contra ditaduras.


Fig. 3) Che Guevara
Estes Homens, como tantos outros, adoptaram comportamentos que vão contra as normas estipuladas na época. Assim, conseguiram algo extraordinário. Mudaram o mundo, criaram inovação, promoveram a igualdade social, contribuíram para a construção de uma sociedade melhor e mais bem instruída e ficaram gravados na história da humanidade como exemplos.
Para tal, sofreram. Galileu foi condenado pela inquisição a prisão domiciliária perpétua e viu-se obrigado a renegar as suas descobertas. Luther King morreu assassinado por um oponente aos seus ideais. Che Guevara foi executado por um soldado do exército boliviano.

Afinal, sendo estas almas enormes, valeu a pena? Vale a pena arriscar perder o conforto e o bem estar que possuímos para melhorar uma sociedade?

Concluo que a resposta está em cada um de nós. Perguntemo-nos primeiro, num momento de reflexão: o que é mais importante para mim, o meu bem estar ou o bem estar da sociedade?

Se o leitor entende que não vale a pena deixar de lado os seus desejos de viajar, de ter uma família feliz, de ter um emprego de sonho, de ter o melhor carro do mercado... Concordo.
Se o leitor entende que há toda uma imensidão de causas pelas quais se deve lutar e que o bem da população está acima de qualquer interesse pessoal... Concordo.

A verdade é que tanto o egoísmo como a boa vontade fazem e farão parte do ser humano. Não remamos todos para o mesmo lado e cada um é feliz à sua maneira. A aceitação e o respeito das perspectivas e opiniões do outro é fundamental para a vivência em sociedade.

Assim, conformo-me com esta realidade, mas desejando sempre que haja um dia em que, por acção de forças sobrenaturais em que não acredito, todos estejamos a remar para o mesmo lado, com os mesmos desejos de mudança, as mesmas ambições para o mundo, a mesma vontade de tornar este planeta num local onde a felicidade seja para todos. Aí, nesse dia, tudo valerá a pena. 


Webgrafia:
                                                                                      
Catarina Marques


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